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Bolsonaro é aconselhado a não ir a ato pró-Daniel Silveira, e Poderes temem escalada de crise

Integrantes do Legislativo e do Judiciário temem que as manifestações possam reeditar os atos de raiz golpista de 7 de Setembro passado

Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) defendem que ele não participe dos atos em desagravo ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) neste domingo (1º), por temor de discursos radicalizados que possam acentuar a crise entre os Poderes.
Já integrantes do Legislativo e do Judiciário, com ou sem a presença do chefe do Executivo, temem que as manifestações possam reeditar os atos de raiz golpista de 7 de Setembro do ano passado.
Estão previstas mobilizações em ao menos cinco capitais: Salvador, Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Os últimos três devem ser maiores, em especial o que ocorrerá na avenida Paulista.
Segundo organizadores, Bolsonaro ainda não definiu se participará do ato na capital federal, que deve ocorrer em frente ao Congresso. Mas integrantes da segurança da Presidência participaram das reuniões com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.
O entorno do chefe do Executivo diz que ele só comparecerá ao ato de Brasília caso a manifestação seja volumosa. Reservadamente, integrantes do Governo do Distrito Federal dizem acreditar que o ato na Esplanada não deve ter tantas pessoas quanto os anteriores, até porque a manifestação foi convocada sem muita antecedência.
A avaliação de aliados do presidente, como mostrou a Folha, é a de que o indulto concedido ao deputado teve efeito positivo sobre a base que já é cativa de Bolsonaro. Mas a campanha do presidente constatou divisão em outra parcela do eleitorado, mais moderada.
O entorno do chefe do Executivo também teme o acirramento da crise quando Bolsonaro está, pela primeira vez, lucrando politicamente num embate com o Supremo. O receio é que ele se exceda e que uma postura autoritária acabe por se sobrepor ao lucro que ele teve com a base ao dar o indulto a Daniel Silveira.
Senadores que conversaram com integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal) nos últimos dias captaram um receio na corte de que, mais uma vez, Bolsonaro esteja preparando o terreno para que a militância endosse atos de caráter golpista.
Isto é, que o objetivo do presidente, por fim, seria inflamar a base contra o Judiciário para posteriormente abrir caminho de questionamento à lisura das urnas e ao resultado das eleições, caso ele perca.
O deputado agraciado com o indulto de Bolsonaro, que anulou a pena de 8 anos e 9 meses imposta pelo STF, deve comparecer aos protestos na Paulista e em Copacabana.
Há possibilidade de o presidente participar por vídeo no ato em São Paulo. Aliados consideram que esse é o melhor dos cenários, por ser mais controlável. Diante de multidões de apoiadores, ele costuma se exaltar mais.
Foi em um carro de som na avenida Paulista, em setembro do ano passado, que Bolsonaro exortou desobediência a decisões judiciais e xingou o ministro Alexandre de Moraes, relator de inquéritos que têm como alvo o presidente e seus aliados.
Nesta sexta (29), sem citar diretamente o deputado Daniel Silveira, Moraes defendeu a punição a quem defende ataques às instituições democráticas e a volta do AI-5, que esteve em vigor na ditadura militar.
As falas remetem a discursos feitos pelo deputado bolsonarista e pelas quais ele se tornou réu e foi condenado pelo STF. Moraes afirmou que quem tem coragem de exercer sua liberdade como escudo para ilícitos deve ter coragem de aceitar sua responsabilização penal.
“Se você tem coragem de exercer sua liberdade de expressão não como um direito fundamental, mas sim como escudo protetivo para prática de atividades ilícitas, se você tem coragem de fazer isso, você tem que ter coragem também de aceitar responsabilização penal e civil.”
O ministro disse que não é possível tolerar discurso de ódio e ataques à democracia. “É discurso muito fácil a pessoa que prega racismo, homofobia, machismo, fim das instituições democráticas, falar que está usando sua liberdade de expressão.”
Bolsonaro, por sua vez, modulou o discurso de crítica ao Supremo. Em entrevista à rádio Metrópole, de Cuiabá, disse que não quer peitar a corte, mas afirmou que ela cometeu excesso.
Em Brasília, o empresário João Salas, um dos organizadores do ato pró-Silveira, disse que vai disponibilizar um dos quatro trios elétricos para o presidente falar “do coração”.
“Ninguém vai atacar o Supremo, nem nada disso por causa de discurso. Apoiamos o presidente e confiamos nele. A nossa manifestação, espontânea e pacífica, é estritamente sobre liberdade”, disse.
Salas afirmou ainda ter solicitado aos demais organizadores que não pedissem “destituição dos 11 ministros do STF” na presença de Bolsonaro, caso ele compareça. “Se alguém tem que falar, algo a respeito da instituição ou de alguma pessoa, direcionado a alguém, é o presidente.”

Existe ainda a possibilidade de uma motociata antes da manifestação.

Um fator que deixa as autoridades em alerta em todas as capitais é o fato de o 1º de Maio ser feriado tradicional para atos de esquerda, por ser o Dia do Trabalhador.
A Secretaria de Segurança de São Paulo vai reforçar o policiamento com efetivo de 840 policiais, na região da avenida Paulista e na da praça Charles Miller, no Pacaembu (zona oeste), onde ocorrerá também neste domingo manifestação crítica a Bolsonaro, com presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
De acordo com a pasta estadual, será disponibilizado um aparato com 128 viaturas, dois blindados, veículo lançador de água, cães, cavalos e drones. Os policiais farão revista pessoal e nas mochilas dos manifestantes para evitar a entrada de “objetos que possam atentar contra a vida dos demais”.

Por Marianna Holanda, Julia Chaib e Mateus Vargas
Brasília, DF
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