Por Bruno Leite / Emily Bomfim
Foto: Tânia Rêgo / Agência Brasil
A divulgação da primeira pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com o questionamento sobre a orientação sexual dos brasileiros levantou indagações se os resultados obtidos representam uma porcentagem real. A coordenadora de divulgação do censo 2022, Mariana Viveiros, explica que, apesar da impressão de que o número é pequeno, não existe um parâmetro real para julgar esse dados no país.
“Pode não ser o número que as pessoas esperavam, e a gente pode falar sobre isso depois. Mas a gente tem um número que antes não existia, um número nacional, um número regional, por estado. Você tem uma contagem, você tem essa população ou alguma parte dessa população retratada ali e que nunca tinha tido antes”, disse Mariana.
O tema foi incluído na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada em 2019. Além da pergunta sobre orientação sexual, outros tópicos são tratados no levantamento, que, ao contrário do Censo Demográfico, se trata de uma pesquisa amostral - quando os entrevistados são selecionados previamente por meio de uma amostra. Entre as questões levantadas no PNS, estão questões sobre violência, infecções sexualmente transmissíveis e doenças crônicas. De acordo com Mariana, por se tratar de temas sensíveis, é inviável levantar os dados através do Censo.
“No Censo, a gente tem que ir a todos os domicílios e pelo menos uma pessoa responde em cada domicílio e é comum que uma pessoa responda por todo mundo que mora na residência. Você tem três meses para fazer uma pesquisa imensa, muitos agentes recebem o treinamento uma semana antes de ir a campo, não tem nem como ser preparado para lidar com esses tipos de questões. Tem que ser uma pesquisa rápida, intensiva. Não tem como ter todo esse movimento, esse cuidado de entrevistar uma pessoa que vai falar sobre si mesma, não tem como isso acontecer”. Segundo Mariana, este é um dos motivos para que o IBGE seja contra a inclusão da temática no Censo.
Sobre o potencial desse dado aumentar políticas públicas para a população LGBTQIA+, Mariana explica que os microdados da pesquisa ficam disponíveis para pesquisadores da área de saúde, o que contribui para um levantamento mais completo sobre questões de saúde envolvendo esse segmento populacional. Para a coordenadora, a pesquisa oferece “um potencial incrível de informações”.
Se comparado a outros países, os números levantados pelo IBGE não apresentam uma grande discrepância: vizinhos do Brasil, o Chile e Colômbia apresentam 1,8% e 1,2%, respectivamente, de autodeclarados homossexuais ou bissexuais. O Reino Unido têm 2,2%, enquanto os Estados Unidos possuem 2,9% e o Canadá, 3,3%.
Sobre futuras pesquisas, Mariana afirma que o IBGE tem buscado formas de aprimorar os levantamentos, de forma que a captação se torne mais confortável para que os entrevistados se sintam mais à vontade de se identificar e também para ampliar os temas abordados na pesquisa, como a identidade de gênero.
“O IBGE está fazendo um esforço metodológico para desenvolver formas boas, que rendam bons dados, para retratar também essa outra questão que não é só orientação sexual”, finaliza.