BAHIA EXTRA
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Inflação acumula alta de 3,94% e corrói salário mínimo que entrou em vigor em janeiro

Nos últimos 12 meses, a alta já é de 12,78%; o preço do grupo de alimentos e bebidas foi o que mais subiu


Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 12 de maio de 2022

O Brasil vive uma crise no mercado de trabalho. O país tem hoje o maior número de trabalhadores ganhando até um salário mínimo desde 2012, início da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. São 33,8 milhões de pessoas sobrevivendo com R$ 1.212,00 (valor atual do mínimo).
É para essas pessoas que a inflação tem o maior peso. Segundo o Ibge, só neste ano, o IPCA , índice oficial da inflação, ficou em
3,95% em Salvador e Região Metropolitana (RM). Ou seja, a inflação já corroeu R$ 47,87 do salário mínimo que começou a vigorar em janeiro. No Brasil, o acumulado de janeiro a abril ficou em 4,29%. Já nos últimos 12 meses, a inflação em Salvador e RM acumula alta de 12,78%, acima da nacional (12,13%).
“De 2017 pra cá tudo aumentou. O mercado, as despesas com a casa... O salário mínimo não acompanhou esse aumento. Tivemos que fazer algumas mudanças aqui em casa, como o controle de energia. Deixamos de comprar algumas marcas. O lazer, a exemplo de comer fora, está fora de nossa realidade”, conta a recepcionista Ana Paula Duarte, que recebe um salário mínimo. Cerca de 55% dos trabalhadores baianos vivem com esse valor ou menos.
“Minha mãe mora comigo, ela é acamada, idosa, requer uma atenção diferenciada - fraldas, remédios, lenço umedecido, pomada. A gente não consegue manter essa estrutura. Atrasamos contas, deixo pra depois, pago uma agora, a outra no outro mês. Assim a gente vai vivendo”, explica Ana Paula.
Em abril, a inflação na RM Salvador cresceu 0,67% em relação a março e foi resultado de altas médias nos preços de seis dos nove grupos de produtos e serviços investigados. O grupo dos alimentos, que tiveram o maior aumento médio em dois anos (2,22%), pressionou mais a elevação do índice. Houve altas importantes tanto nosalimentosconsumidosemcasa (2,64%) quanto na alimentação fora (0,95%).
Entre os alimentos, o pão francês (4,40%) teve a maior contribuição para a alta geral da inflação de abril, seguido pelo tomate (10,59%), que registrou o maior aumento médio entre todos os produtos e serviços. Outros itens de consumo importantes do dia a dia também aumentaram significativamente, a exemplo do leite longa vida (6,92%), do óleo de soja (8,87%), da batata-inglesa (10,20%) e da cebola (8,36%).
O economista e presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA) Gustavo Casseb Pessoti, explicou ao Jornal da Metropole que o baixo crescimento do país agrava os efeitos da inflação. “O presente é muito parecido com outros momentos delicados da história, mas se eu volto no tempo, e vou lá pros anos oitenta, por exemplo, quando tínhamos um processo inflacionário crônico, o país não tinha uma taxa de desemprego alta nem uma taxa de crescimento do PIB baixa. O momento atual é dos mais delicados”.
Em 2023, o valor do salário mínimo não vai ter aumento acima da inflação. Nesta semana, cálculos da corretora de valores Tullett Prebon Brasil apontam que descontada a inflação, a perda do poder de compra ao fim do governo de Jair Bolsonaro vai ser de 1,7%. Bolsonaro será o 1º presidente desde o Plano Real a terminar o mandato com salário mínimo valendo menos.
Desculpas - O ministro da economia, Paulo Guedes justifica a falta de aumento do mínimo devido aos efeitos da pandemia do coronavírus e a guerra na Ucrânia. “A verdade é que essa geração pagou pela guerra, fizemos sacrifícios e ficamos sem aumento de salário, tivemos uma recuperação econômica forte. Não houve aumento real de salário porque, durante uma guerra, o normal é até ter perdas importantes. Estamos lutando para preservar salário mínimo, empregos e a capacidade de investimento do país”, disse Guedes durante lançamento da plataforma de investimentos do governo na última segunda-feira.
Em contrapartida, Pessoti argumentaque antes da pandemia o país já seguia rumos negativos. “Não bastasse a gente teruma taxa de crescimento muito baixa (que foi de 0% entre 2011 a 2020 - com apenas um ano de pandemia) o que a gente tá vivendo agora faz uma alusão bem clara que as coisas vão continuar difíceis. A taxa de crescimento esperada pra 2022 é de 0,5%, se tudo der muito certo. E, para 2023, se vier uma nova gestão, aí você tem todo o processo de inflexão da política econômica que aí está, não se sabe ao certo como o mercado vai reagir. Então as expectativas pra gente [domercado]decrescimentoeconômicodo Brasil pra 2023 também são baixas”, declara.
Quem também sente a falta de horizonte são os jovens. O estudante de direito, Victor de Jesus Santana, 24, contribui nas contas da casa e sente a alta dos preços. “Houve mudança no orçamento da família, principalmente relacionado ao lazer. Por exemplo, saídas, almoços fora, nós não fazemos mais. Então precisou ser feito uma readequação no orçamento pra priorizar aquilo que era essencial. As contas apertaram de uma maneira geral porque o salário não acompanha. Então pra que a gente não entrasse no vermelho foi necessário uma readequação”, conta.

VILÕES DA INFLAÇÃO NO ÚLTIMO ANO

1 - ALIMENTAÇÃO E BEBIDAS:
Alta de 14,53%

2 -HABITAÇÃO - Alta de 14,55%

3 - ARTIGOS DE RESIDÊNCIA -
Alta de 17,53%

4 - VESTUÁRIO - Alta de 23,35%

5 - TRANSPORTES - Alta de
20,55%

6 - SAÚDE E CUIDADOS
PESSOAIS - Alta de 5,05%

7 - DESPESAS PESSOAIS - Alta
de 4,69%

8 - EDUCAÇÃO - Alta de 8,54%

9 - COMUNICAÇÃO - Alta de
2,34%

Por: Luciana Freire
Foto: Dimitri Argolo Cerqueira / Metropress
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