Para Lula, a indústria, que chegou a ser 30% do PIB brasileiro e caiu para 10%, não tem como competir internacionalmente porque houve um atraso no investimento em novas tecnologias
Durante entrevista no início da noite do dia 18, para a Rádio Conexão 98 de Palmas (TO), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que uma recuperação do setor industrial do Brasil passa, obrigatoriamente, por investimentos pesados em educação, ciência e tecnologia, como forma de fomentar avanços.
“Para se transformar em um país industrial, é preciso que você faça investimento em ciência e tecnologia, é preciso que você faça mais universidades, mais escolas técnicas. Quando eu estava na presidência, o Brasil conquistou o 13º lugar na produção de artigos científicos nas revistas especializadas porque nós fizemos muito investimento em ciência e tecnologia. Isso acabou. As universidades hoje não têm dinheiro para cortar a grama na frente dos prédios, as escolas técnicas estão falindo”, lamentou o ex-presidente.
Segundo Lula, isso é um reflexo do total abandono, da parte do atual governo federal, em relação à produção de conhecimentos e diversos outros setores da economia. “Eu não acredito que tenha qualquer empresário sério defendendo a política de desenvolvimento do governo. Não existe política de desenvolvimento do Bolsonaro, o que existe é uma política de venda daquilo que foi construído ao longo de tantos e tantos anos porque não tem política de desenvolvimento, não tem projeto industrial. O problema é que como não tem governo, não tem projeto, então não tem investimento”, ressaltou.
Para o ex-presidente, a indústria, que chegou a responder por 30% do PIB brasileiro, percentual que hoje caiu para cerca de 10%, não tem como competir com tanta força no cenário internacional porque houve um atraso no investimento em novas tecnologias, diferente do que aconteceu em outros países, como Estados Unidos, Coreia do Sul e China.
“Nós perdemos o momento, a oportunidade de fazer investimento em ciência e tecnologia como a Coreia fez, como os Estados Unidos fizeram, mas não adianta ficar reclamando. Nós precisamos tirar o atraso para que daqui a 10, 20 anos, a gente tenha uma nova geração, uma geração de pesquisadores, de engenheiros, de cientistas, para que a gente possa discutir nichos de indústrias que possam ser competitivas no mercado internacional. O Brasil não quer ficar apenas como exportador de commodities, o Brasil quer exportar também produtos de valor agregado”, declarou Lula.
Ele também citou uma virada na balança comercial do Brasil com a Argentina, ocorrida em seu governo, como um exemplo de política industrial e desenvolvimento. “Quando eu cheguei na presidência da República, o fluxo comercial entre o Brasil e a Argentina era apenas de 7 bilhões de dólares, quando eu deixei era de 39 bilhões. Sabe o que o Brasil vendia para a Argentina? Não era carne, não era soja, não era milho, eram produtos de valor agregado, produtos industrializados. Porque se o Brasil não pode competir com a Alemanha, a gente pode competir com outros países. Acontece que as nossas indústrias vão fechando porque a economia não cresce”, afirmou.