Em uma espécie de laboratório para as eleições presidenciais de 2022, o PDT e o PSB firmaram alianças em 45 cidades com mais de 100 mil habitantes, incluindo dobradinhas em ao menos oito capitais.
Depois de fechar parcerias em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Rio Branco, os dois partidos firmaram apoios mútuos nesta semana em Fortaleza, Recife, Goiânia e Maceió. Ainda há conversas em andamento para uma possível aliança em João Pessoa.
As parcerias fazem parte da estratégia de fortalecimento dos dois partidos para um projeto único na eleição presidencial de 2022.
“É claro que cada eleição é uma eleição, mas a intenção é fortalecer a parceria. Estamos preparando a terra, adubando e regando para mais tarde colhermos os frutos”, diz o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.
A disputa neste ano também marca o distanciamento dos dois partidos em relação a um aliado histórico: o PT. Enquanto o PDT não vai fechar aliança com petistas em nenhuma das 26 capitais, o PSB deve aliar-se aos petistas apenas em Salvador.
Presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira diz que o ponto de partida para as alianças firmadas com o PDT foi o discurso encampado pelo ex-presidente Lula quando deixou a prisão, em Curitiba.
“Ele fez declarações ruins para as forças progressistas. Disse que o PT queria ter candidato em todas as capitais e que lançaria um nome para 2022. É uma política exclusivista e acabou gerando esse movimento”, afirmou.
Mesmo com uma linha ideológica parecida, o estreitamento entre PSB e PDT demandou articulação entre os diretórios nacionais e locais, além de uma corrida para aparar arestas em algumas das principais capitais do país.
Principal reduto do PSB, Recife foi palco de uma das negociações mais delicadas que quase resultou em uma implosão da aliança nacionalmente, inclusive com ameaças de dissolução de acordos já firmados em outras capitais.
Após estimular a candidatura do deputado federal Túlio Gadêlha de maneira enfática até as vésperas das convenções partidárias, a direção nacional do PDT resolveu retirá-lo da disputa nesta sexta-feira (11) e apoiar o nome de João Campos (PSB) na capital pernambucana.
Ao comunicar sua saída, Túlio Gadêlha, que é crítico à gestão do PSB no Recife, foi direto ao assunto. Informou que o PSB nacional avisou que deixaria de apoiar os pedetistas em 40 municípios de médio e grande porte se a sigla resolvesse disputar o Recife, capital com peso histórico para os pessebistas.
“Essa foi a informação que o presidente Carlos Lupi [PDT] nos trouxe e pediu compreensão desta direção municipal do partido”, disse Gadêlha. Lupi e Siqueira negam a ameaça e dizem que a retirada da candidatura no Recife se deu de forma consensual.
“Não trabalho na base da ameaça e nem de chantagem. O que existe é a necessidade de estarmos juntos em muitos lugares”, afirmou Siqueira.
Gadêlha, ao anunciar o que chamou de “aliança crítica” no Recife, afirmou que o PSB em Pernambuco precisa fazer uma autocrítica por ter apoiado Aécio Neves em 2014 e o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) dois anos depois.
Insatisfeito com o sacrifício em nome da união entre PSB e PDT, ele indicou o enfermeiro Rodrigo Patriota para a vice na chapa de João Campos.
O gesto foi entendido como uma maneira de criar embaraço para o candidato do PSB, já que Patriota liderou movimentos de profissionais de enfermagem em Pernambuco contra o governador Paulo Câmara (PSB).
No domingo (13), em nota oficial, Carlos Lupi interveio e resolveu a questão. Anunciou o nome da ex-vereadora do Recife Isabella de Roldão, identificada com a gestão do PSB, para ocupar a vice.
O acordo para retirada da candidatura de Gadêlha também foi alvo de críticas por replicar uma movimentação que aconteceu em 2018 entre PT e PSB.
Naquele ano, para isolar o PDT de Ciro na eleição presidencial, o PT retirou a candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco, facilitando o caminho para a reeleição de Paulo Câmara (PSB). Em contrapartida, o PSB retirou sua candidatura em Minas Gerais e declarou neutralidade na eleição presidencial.
Na época, o acordo foi duramente criticado por Ciro Gomes: “Degolaram a cabeça de uma jovem militante de Pernambuco, Marília Arraes, pelo simples crime de ter, com os estímulos da burocracia do PT, apresentado uma ideia rebelde aos acordões de gabinete”, disse o então candidato.
Nas demais capitais, a construção das alianças foi conduzida de maneira mais tranquila. Em Fortaleza, o PDT anunciou nesta quinta-feira (10) que deputado José Sarto, presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, será o candidato do grupo liderado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes.
O PSB vai indicar para o posto de vice Élcio Batista, ex-secretário estadual da Casa Civil e nome ligado ao governador Camilo Santana (PT).
O PT vai para a disputa com a ex-prefeita e deputada federal Luizianne Lins, em decisão tomada a contragosto do governador, que preferia que o ter PT e PDT unidos na capital cearense.
A tendência, contudo, é que Sarto polarize com Capitão Wagner (Pros), principal nome da oposição e que tem relação estreita com o presidente Jair Bolsonaro.
Assim como o Recife para o PSB, o PDT tem Fortaleza como seu reduto mais simbólico e a vitória de José Sarto é considerada crucial para as pretensões presidenciais de Ciro Gomes daqui a dois anos.
Para isso, a tendência é de uma coalizão ampla em torno de Sarto, que ainda deve ter o apoio de partidos como DEM e PSDB, sacramentando a reaproximação entre senador Tasso Jereissatti e os irmãos Ferreira Gomes após 10 anos de rompimento.
Outra capital do Nordeste que deve ter uma dobradinha entre os dois partidos é Maceió, onde o deputado federal João Henrique Caldas (PSB) disputa a prefeitura tendo o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) como vice. A chapa deve polarizar com Alfredo Gaspar (MDB), candidato do governador Renan Filho (MDB).
Em Goiânia, a parceria está sendo costurada para uma chapa com Elias Vaz (PSB) como candidato à prefeitura e Paulinho Graus (PDT) de vice.
Nas semanas anteriores, os dois partidos já haviam anunciado alianças em torno de Márcio França (PSB), em São Paulo, Martha Rocha (PDT) no Rio de Janeiro, Juliana Brizola (PDT), em Porto Alegre, e Socorro Neri (PSB) em Rio Branco.
Em capitais onde não terão candidatos próprios, cada partido tomou as suas decisões conforme as especificidades locais.
Em Salvador, por exemplo, os dois partidos tomaram caminhos opostos. O PSB caminha para indicar a vice de Major Denice (PT). A negociação foi costurada via diretório nacional, que não queria alianças com o PT nas capitais, mas abriu uma exceção no caso da capital baiana.
O PDT, por sua vez, vai integrar a chapa de Bruno Reis (DEM), vice-prefeito que disputará a sucessão com o apoio do prefeito ACM Neto (DEM). A aliança deve selar a saída dos pedetistas da base aliada do governador Rui Costa (PT).