No lugar onde até seis grávidas deveriam aguardar havia 22 mulheres que esperavam o momento para dar à luz. Outra segurava o bebê numa cadeira de rodas, quando deveria estar numa maca. Uma terceira, ainda sem parir, dormia, sentada em uma cadeira.
Estas foram alguns das imagens mostradas pelo presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia da Bahia (Sogiba), Carlos Lino, na quinta-feira, 25, durante apresentação de um relatório de visitas feitas a unidades de obstetrícia da rede pública de saúde da capital e de Lauro de Freitas (região metropolitana), de maio a agosto do ano passado.
"Essas imagens foram tiradas na Climério de Oliveira, mas é uma situação de todas as maternidades públicas", disse Lino. As visitas tinham o objetivo de verificar a situação das maternidades que compõem a rede pública e teve autorização da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab). Para Lino, a questão principal que o relatório aponta é a má gestão das unidades. Como consequência do mau gerenciamento, há a superlotação e peregrinação de grávidas entre as unidades, à procura de vagas.
"O principal problema das maternidades públicas é gestão e prioridade. Precisa melhorar estrutura física e gestão. Por que o (Hospital João Batista) Caribé tem leitos desativados? Por que tem na (maternidade) Tsylla Balbino obras sem conclusão desde 2009? Tem que melhorar essa gestão e o financiamento na área de saúde", afirmou Lino. O presidente da Sogiba disse, ainda, que o estudo não focou o quantitativo de leitos. "A Sesab diz que há 700 leitos, mas não é o que parece na realidade.
O problema não é só leitos. É como está sendo feito o atendimento", acrescentou. O relatório, que detalhou problemas em 11 unidades, foi entregue, segundo Lino, ao secretário Fábio Vilas-Boas no mês passado. No entanto, a Sogiba ainda aguarda uma reunião para discutir o assunto. "O secretário ainda não marcou e estamos evoluindo para uma situação dramática nas maternidades", disse Lino.
Grupo de trabalho: As visitas foram realizadas nas maternidades Tsylla Balbino, Albert Sabin, no Instituto de Perinatalogia da Bahia (Iperba), além dos hospitais Roberto Santos e o Caribé. O grupo de trabalho formado pela Sogiba acompanhou também as unidades de obstetrícia do Hospital Sagrada Família e do Salvador, onde há convênio com o SUS.
Foram incluídas também a maternidade referência Professor José Maria de Magalhães Neto, a Climério de Oliveira e a Casa de Parto Natural, além do Hospital Geral Menandro de Faria. Superintendente da Climério de Oliveira, Mônica Neri afirmou que desde novembro do ano passado a situação no local era de "caos". O problema, segundo ela, é que a unidade, que é uma maternidade-escola, não tem conseguido transferir o excedente de pacientes por falta de vagas em outras unidades. A superlotação interfere até na formação de profissionais. "Ainda trabalhamos com superlotação. A transferência é pedida à Central de Regulação. É preciso que as equipes de trabalho das demais maternidades sejam recompostas para poder abarcar essa alta demanda", disse Mônica.