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Licença menstrual pode melhorar a qualidade de vida e aumentar a produtividade

Além da cólica, há uma série de sintomas que podem tornar a menstruação desconfortável para algumas pessoas

Woman with hands holding pressing her crotch lower abdomen. Medical or gynecological problems, Healthcare concept

Por Jéssica Santos

Nos próximos dias, a Espanha pode se juntar ao grupo de países que oferecem licença remunerada para mulheres no período menstrual, como já acontece no Japão, Taiwan, Indonésia, Coreia do Sul e Zâmbia. No caso espanhol, se aprovada, a lei permitirá três dias de folga para quem têm uma menstruação dolorosa.
Além da cólica, há uma série de sintomas que podem tornar a menstruação desconfortável para algumas pessoas. De acordo com a ginecologista e obstetra Larissa Cassiano, os mais comuns são dor abdominal, cólica intensa, dor de cabeça, enjoo, irritação, mudança no sono e dor na mama.
Há também aquelas que sofrem por doenças crônicas que podem tornar as dores ainda mais intensas no período menstrual.
É o caso da secretária-executiva Shirley Martins, 28, que tem endometriose. A condição se desenvolve quando o tecido que reveste o interior do útero se encontra fora da cavidade uterina, normalmente em outros órgãos da pelve como trompas, ovários, intestinos e bexiga. De acordo com ela, a cólica intensa, a dor de cabeça e a enjoo que sente no período geram indisposição. “Preciso sempre alterar minha rotina para ficar em função do ciclo. Não consigo fazer muita coisa”, diz.
“Já deixei de sair, de viajar e de trabalhar porque estava com dor ou porque era o terceiro, quarto dia do ciclo quando o fluxo fica muito intenso. Tem época que fico com cólica até a menstruação ir embora”, conta Shirley.
Assim como ela, a professora de História, Luzia de Souza, 56, também passou anos alterando sua rotina devido às dores menstruais.
Ela tinha 13 anos quando sentiu o desconforto pela primeira vez. “Acordei bem indisposta, passei a noite sentindo enjoo, dor na cabeça e algo como dor, como gases. Minha mãe me obrigou a ir para a escola assim mesmo e foi um dia horrível.”
“Foram anos de perdas. Deixei de sair com as amigas, ir a festas, viajar, faltei ao trabalho inúmeras vezes e também durante o Ensino Fundamental, Médio e a Faculdade”, conta Luzia, que só deixou de sentir dor aos 36 anos em função de um tratamento para endometriose.
Além de lidar com sintomas físicos e psicológicos, ainda há o machismo e o desconhecimento das lideranças das empresas que ignoram a intensidade dos sintomas. “Uma vez, um chefe homem me disse que era castigo divino para nós, mulheres, que eu teria de suportar, porque ele tinha esposa, mãe e irmãs e nunca as viu reclamar disso”, relata Shirley.
A situação ainda pode se agravar quando se trata de pessoas transgênero e não binárias. Além de sofrerem com as dores da menstruação, essa população é atingida pela transfobia que faz com que a situação de seus corpos seja ignorada por chefes e também por profissionais da saúde. Quando fazem o tratamento hormonal, seu ciclo menstrual é alterado até, por vezes, parar -mas essa terapia nem sempre é acessível a todos.
De acordo com pesquisa feita em 2018 pela marca de absorvente Sempre Livre em parceria com os Institutos Kyra e Mosaiclab, com mulheres que menstruam regularmente e que tem entre 14 e 45 anos, 51% das brasileiras sentem mal-estar intenso durante a menstruação.
O impacto disso é que 1 em cada 10 deixa de ir para escola ou para o trabalho e apenas 26% se sentem produtivas no período menstrual. “Trabalhar com dor reduz a produtividade e foco de maneira significativa, além disso, nesse momento, muitas pessoas ficam mais sonolentas ou com mudanças na alimentação, fatos que interferem diretamente no trabalho”, aponta a ginecologista Larissa Cassiano.
Foi pensando em assegurar qualidade de vida das sócias e da equipe que a Pachamama, empresa que fabrica produtos e cosméticos naturais em Minas Gerais, oferece a “Folga da Lua”, que consiste em um dia de licença remunerada no período menstrual.
“Quando você dá o descanso para o corpo no momento que ele precisa, no período depois da menstruação, essa pessoa vai estar muito mais focada, muito mais energizada, muito mais potente do que se ela tivesse passado por cima de suas necessidades”, afirma Carol Neves, CEO da Pachamama.
A decisão de estabelecer esse momento veio junto com o nascimento da empresa. “Desde o primeiro dia, a gente alinhou que teríamos folga menstrual e quando tivéssemos funcionárias ofereceríamos para elas também. Entendemos que nós, pessoas que menstruam, somos seres cíclicos”.
Ao longo dos 12 anos desde a criação da empresa, Carol foi questionada muitas vezes por empresários sobre a questão da produtividade. “O que percebo é que a produtividade é muito grande quando a gente permite que essa pessoa fique em casa e descanse nesse momento”.
Tanto especialistas quanto pessoas que menstruam concordam sobre a importância de uma pausa mensal.
Para Cassiano, “permitir um afastamento neste período pode trazer uma melhora global na produtividade”. Já a CEO da Pachamama aponta diferenças na qualidade do trabalho quando uma funcionária decide não tirar a folga por conta da alta demanda. “A gente percebe uma queda de produtividade, sabe? Justamente por isso, ela não vivenciou esse fim de ciclo”.
Luzia, por sua vez, imagina que, com essa pausa, sua qualidade de vida teria sido melhor durante sua vida menstrual. “Nem sempre os médicos entendiam que [eu] não estava bem, normalmente negavam atestado.”
Em sua experiência, Shirley destaca que quando precisa ir trabalhar nesses dias, não rende ou precisa ir embora mais cedo para tomar medicação. “Estando em casa, a preocupação com o trabalho e estudos seria menor. Ficaria despreocupada com a rotina, sabendo que estou amparada, que posso sim, ficar deitada, tomar um medicamento para cólica e esperar a dor passar”.
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