Integrantes da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo informaram o Conselho Superior do Ministério Público Federal que a procuradora natural da operação, Viviane Martinez, teria solicitado o adiamento de uma operação que atingiria a cúpula do governo tucano em São Paulo, especificamente o senador José Serra (PSDB), que governou o Estado entre 2007 e 2010.
Serra é investigado pela Lava Jato por lavagem de propinas pagas pela Odebrecht nas obras do Rodoanel Sul. O tucano e sua filha, Verônica, foram denunciados em julho pela força-tarefa, mas a ação penal foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal.
Os procuradores da Lava Jato SP pediram o desligamento da operação nesta quarta, 2, por divergências internas com Viviane Martinez, que lhes pareceu ‘muito aquém do que se esperaria de um procurador natural’. O ofício com a renúncia coletiva foi enviado ao procurador-geral da República Augusto Aras.
Em outra carta, endereçada ao Conselho Superior do MPF, os integrantes da força-tarefa expõem diversas divergências com a condução de Viviane Martinez, que assumiu em março o comando do 5º Ofício da Procuradoria da República em São Paulo.
Segundo a força-tarefa, as investigações que miravam Serra estavam sendo conduzidas ao longo do primeiro semestre de 2020, quando a Lava Jato bandeirante se debruçou sobre ‘complexo esquema de lavagem de ativos’ envolvendo o senador e ‘ilicitudes praticadas nas obras do Rodoanel Sul’.
“Cumprindo seu papel, esta força-tarefa organizou, nesse plano, numerosos pleitos investigatórios sujeitos a reserva de jurisdição (entre quebras de sigilos bancário, fiscal e telemático e buscas e apreensões), e as minutas respectivas foram sendo trocadas, seguindo prática comum a casos sensíveis, em um grupo de troca de mensagens, para que todos pudesse ler o que fosse produzido e, querendo, pudessem opinar a respeito, sugerir modificações e etc”, relata a Lava Jato SP.
Foi nesse contexto que, em 11 de junho, sete peças com pleitos investigatórios foram concluídas para assinatura dos integrantes da força-tarefa. Os documentos seriam remetidos à Justiça Federal para autorização de possível operação ‘fartamente embasada em provas’. As diligências, segundo os procuradores, atingia ‘agentes da cúpula do então governo do Estado de São Paulo, e apuraria crimes praticados entre 2006 e, ao menos, 2014’.
“Surpreendentemente, contudo, apesar de não ter feito qualquer objeção à época das trocas de minutas, a procuradora Viviane enviou um e-mail, em 12/06/2020, aos demais integrantes da força-tarefa, pedindo que as peças fossem recolhidas do (Sistema) Único, e que a operação planejada fosse adiada”, apontam os procuradores.